O poder de um chefe na (in)felicidade

O poder de um chefe na (in)felicidade

O tema da felicidade está na moda. Da liderança também. E do propósito na carreira também. Que seja uma moda para ficar. Hoje, temos ao nosso dispor diversos livros, formações e artigos que nos sensibilizam para estas áreas. Mas do texto, do papel ou do ecrã e das palavras bonitas e incentivadoras vai uma distância à realidade.

 

Existirá hoje, uma pressão pública na busca pela felicidade? Alguém tem a fórmula mágica? Gostaríamos muito de estar sempre felizes. Só que não. A realidade não é assim. E a realidade corporativa também não. Mas podemos tentar.

 

Você já tomou más decisões na gestão da sua carreira? Eu já. Já se confrontou com um líder tóxico? Eu já. E se voltasse atrás o que mudaria? Já lhe conto o que faria ou melhor, o que não faria.

 

As escolhas que fazemos, umas com mais certeza do que outras, podem levar-nos no bom ou no mau caminho. Às vezes pensamos que estamos a tomar a melhor decisão para nós mas quando chega o momento da verdade… Se eu soubesse o que eu sei hoje…

 

Não é numa pausa nas férias ou numa noite descansada que deve parar para pensar na sua vida e no estado da sua carreira. É preciso muito mais tempo do que esse. É preciso pensar, repensar, questionar, ouvir, escrever, falar em voz alta.

 

Se eu lhe perguntasse “Há alguma coisa que lhe está a faltar para encontrar a sua “felicidade” no trabalho?”, o que me responderia? Há muitas pessoas que hoje vivem infelizes no seu trabalho. Ou porque não gostam do que fazem, não as desafia, não as satisfaz, não lhes confere um reconhecimento, não encontra nelas um significado ou… por causa do seu chefe.

 

Já afirmei no passado Foi bom quando tive de lidar com aquele líder, aquele...mau líder. Sabe porque digo isto? Porque enalteci ainda mais os bons líderes que tive e porque tive a certeza do que nunca iria ser ou fazer para outros”.

 

Foi bom mas foi muito duro. Agora que passei por isso, olho para trás e analiso a situação com muito mais maturidade, com foco no problema e na solução e com a sensação de que agi correctamente para com a empresa e até para com esse chefe mas talvez não tão correctamente para comigo. O mundo às vezes é um lugar injusto mas a verdade é que a justiça chega e chegou, para todos. Tentei ir embora o mais rápido possível, tentei ver o lado positivo de estar ali. Mas a verdade, é que já nem conseguia olhar aquela pessoa nos olhos. As mentiras, as falsidades e o que eu sabia era insuportável. A pena das outras pessoas. O sofrimento que essa pessoa tinha causado noutras no passado. Uma falsa luta pelo sucesso da empresa. Esta pessoa só pensava numa coisa: nela própria.

 

As pessoas são pessoas. As pessoas surpreendem-nos. E até certo ponto não conseguimos prever que pessoas estão ali. E vai haver sempre bons e maus chefes por aí…

 

Diz-me quem é o teu chefe, dir-te-ei o quanto serás feliz.

 

Mas podemos e devemos estar atentos. O nosso chefe tem um papel importantíssimo no nosso trabalho, no nosso dia-a-dia, na nossa motivação, na nossa produtividade, no nosso engagement, na nossa felicidade! Pode tornar o nosso dia num bom dia ou num dia de sofrimento. Os que o transformam num bom dia tornam-se inspirações para nós, modelos com os quais devemos aprender e dos quais não nos devemos esquecer. Os que o transformam num dia de sofrimento tornam-se em más recordações, quase um trauma que até gostaríamos de esquecer e apagar mas que não funciona assim. Perdoar e esquecer? Talvez. Para quem o quiser.

 

Só quando passamos pelas coisas é que ganhamos algum “estofo” para o que vem a seguir. Mas sei que se um dia voltar a ter um chefe (agora trabalho de forma independente) vou estar alerta a estes sinais e não cometerei estes erros. Recomendo que faça o mesmo.

 

Sinais do seu chefe:

 

  1. É uma pessoa confiável? Parece-lhe? Aquilo que é consigo também é com os outros? Partilha ou esconde informação e os seus planos? Está sempre a surpreender? É inconstante?
  2. Tem uma visão e uma estratégia clara e transparente para o departamento e para si?
  3. Tem um passado estranho e negativo como líder? O que dizem as outras pessoas que o conhecem sobre ele?
  4. Questiona tudo o que lhe apresenta? Diz-lhe não e depois diz sim?
  5. Motiva-o ou compete consigo? Quer fazer o seu trabalho? Dá-lhe espaço para brilhar? Assume as suas ideias ou partilha-as com outros mantendo a sua autoria?
  6. Preocupa-se com o seu desenvolvimento e progressão? Incentiva-o e ajuda-o a fazer novas formações ou é da opinião que não é preciso ou não está preparado?
  7. Acha que sabe tudo? Já sabe tudo o que lhe apresenta? Usa as suas formações e experiências do passado para justificar tudo?
  8. Ensina-lhe algo? Ou passa a vida com explicações básicas e de senso comum?
  9. Ouve-o? Verdadeiramente? Ou sente que precisa de se repetir vezes e vezes sem conta?
  10. Dá-lhe trabalho interessante e importante ou o que ele não quer fazer?
  11. Funciona como um mentor ou um ditador/controlador? Ajuda-o quando é preciso? Dá-lhe autonomia? Dá-lhe feedback claro e consistente?
  12. Ouve e aceita a sua opinião?
  13. Muda de atitude dias antes de você ter de preencher a avaliação dele?
  14. Demonstra preocupação consigo ou está sempre a manifestar negatividade e falta de sentimentos?
  15. Estimula o seu sucesso e o seu bem-estar pessoal?
  16. Sente que utiliza mal o seu tempo e desperdiça-o com reuniões constantes sem fundamento em concreto?
  17. Revela ter inteligência emocional?
  18. Tem uma ambição desmedida e sente que seria capaz de tudo para alcançar os seus objectivos?

 

Erros que você não deve cometer:

 

  1. Acreditar que tudo vai mudar. Que o chefe vai mudar. Não acredito que por mais formações que tenha em liderança, gestão de pessoas, inteligência emocional,… a pessoa irá transformar-se numa outra pessoa. Porque é disso mesmo que se trata. Ser uma boa pessoa, ser humano.
  2. Ficar dependente do chefe. Para o bem e para o mal. Se o chefe bom se for embora, o que será de mim? E se o chefe mau ficar muito mais tempo? E se o chefe mau me dispensar? E se ele estiver a limitar a minha progressão?
  3. Confiar em pessoas semelhantes. Não vale a pena desabafar com pessoas parecidas. Até poderá ser ainda pior.
  4. Não investir em si. O tempo é um bem precioso e não pára. Sei que não é fácil, não basta querer. É preciso coragem mas também é preciso agir e tem de começar por algum lado. Já diz o ditado “Quem está mal que se mude”. Chegar a uma situação extrema de ruptura não é de todo a melhor opção.
  5. Não definir objectivos e um plano para o seu futuro. Coloque várias opções em cima da mesa. Rodeie-se das pessoas em quem confia. Peça ajuda a um profissional, se necessário. Mas faça algo.

 

No fundo, acredito que muito se resume à conexão, à relação, à empatia, à verdade e à confiança. Ninguém é perfeito.

 

Há pessoas que são óptimos líderes, outras que são mais ou menos e outras que são péssimos. Acredito na evolução e na aprendizagem, sim. Acredito que há pessoas que foram feitas para este papel. E acredito que há outras que jamais o deveriam assumir, para o bem delas e para o bem de outras.

 

Porque não questionar as pessoas que já liderou? Poderíamos ter algumas falsas respostas por medo ou outro sentimento? Sim. Mas vale a pena tentar. Porque não olhar para o ambiente que já criou? Porque não acalmar o ego, a vaidade e a ambição? Porque não assumir outro papel na vida?

 

Um mau líder não mata mas mói. Um bom líder é algo incrível!

 

Termino com uma frase que não é minha mas que ficou gravada e me faz todo o sentido “Para ser um bom líder é preciso ser uma boa pessoa”.

Concorda?