O que eu aprendi desde que me lancei a solo

O que eu aprendi desde que me lancei a solo

Passaram 16 meses desde que lancei o meu projeto, trabalhando de forma independente.

 

Este não é um artigo de lamentações nem de valorizações. É uma partilha de experiências e sentimentos verdadeiros, um diário resumido que me permitiu reflectir sobre o passado, assentar o presente e idealizar o futuro.

 

Aconteceu-me a mim. Pode ou poderá acontecer-lhe a si.

 

No início foi tudo novo e até um pouco estranho. Quase como se tivesse a entrar num novo Mundo, vinda de uma fortaleza Corporate… Não fazia a mínima ideia de quem eram os players deste mercado, que existiam tantos e tão diferentes… Ainda hoje vou descobrindo novas pessoas que actuam no mesmo “território” ou semelhante.

 

Comecei confiante e o início foi óptimo. Lancei-me super motivada em Janeiro de 2018 como Consultora de Marketing para PME´s e Empreendedores. Nem quis acreditar quando surgiram logo clientes. Sim, logo. Realizei alguns projectos mas ao final de pouco tempo sentia que não era bem aquilo que eu queria, não era aquele trabalho que me realizava.

 

Depois, devido a uma situação familiar grave tive de fazer uma paragem de alguns meses e neste tempo comecei a investigar bastante sobre o tema Personal Branding. Depois do Verão, reestruturei o meu conceito, os meus serviços, a minha comunicação e afirmei-me nessa área. Fazia todo o sentido para mim (e já o expliquei em várias publicações minhas). É isto que eu quero. É isto que eu gosto. É isto que eu sei fazer. É isto que eu vou fazer. E acho que há tanto para fazer nesta área em Portugal. Visão, ideias e objectivos não me faltam, felizmente.

 

Comecei a trabalhar a minha Marca Pessoal como nunca o tinha feito. Sentia que tinha de ser um exemplo. Como poderia trabalhar a Marca de outras pessoas se não trabalhasse a minha?!

 

A partir daí foi um montanha russa de sentimentos, experiências, emoções e decisões.

 

Tive fases de muito trabalho e fases de nenhum. Tive muitos contactos a elogiar o meu trabalho. Tive muitas propostas para integrar projectos mas poucas que me agradassem. Tive que aprender a gerir as minhas expectativas e hoje já o faço bem.

 

Nunca duvidei das minhas capacidades mas este não é um mundo fácil e perfeito como às vezes tantas pessoas o fazem parecer. O parecer também é algo que aprendi a perceber. Nem sempre o que parece é. Aprendi a não fazer comparações com os outros, acredito que eu sou diferente e tenho o meu lugar. Aprendi a lidar com cópias dos outros. Aprendi a lidar com algumas “parvoíces” que ainda vou ouvindo sobre esta área.

 

Mentiria se dissesse que tudo foi maravilhoso, que não chorei algumas vezes, que não tive de telefonar a algumas pessoas em alguns momentos mais frágeis em busca de ânimo e motivação para continuar. Mentiria se dissesse que não olhei e concorri para alguns anúncios de emprego durante este tempo. Mentiria se dissesse que por vezes não me dá uma sensação de medo. E não é medo de falhar. É medo de não conseguir sobreviver apenas com este projecto e cumprir com o que a minha filha merece e precisa.

 

Houve vários momentos (mais do que gostaria) em que pensei desistir. Pensei em voltar à vida profissional que tinha no passado. Apesar de nunca me ter arrependido, passei por alguns dias maus. Às vezes bastava um simples acontecimento para começar a duvidar de mim, do meu projecto e um dia que podia ser bom transformava-se num dia de lamentações, hesitações e paragem. Como resolvi isto? Com a minha força, que sempre tive ao longo da vida e tendo plena consciência e afirmando para mim própria que eu sou boa e que eu consigo (sem falsa modéstia e sem uma ambição descabida).

 

E foram sempre existindo pequenas confirmações do que eu queria ou não queria. Lembro-me perfeitamente de um jantar com amigas (e ex-colegas). Elas falavam das suas vidas, dos seus carros, telemóveis, chefes, trabalho que tinham e eu só pensava que não queria nada aquilo e que nem me apetecia tocar em alguns daqueles tópicos porque já não me diziam nada. E as últimas frases que trocámos nesse jantar foram ainda mais marcantes. Perguntavam uma à outra quanto tempo por dia passavam com os filhos. Nem vou dizer aqui quanto. O quanto chocou-me mas a forma natural como o diziam ainda me chocou mais. O que me leva para uma conversa que tive recentemente com outra pessoa e que me disse: a sua filha é a sua prioridade. É mesmo! Mas também adoro trabalhar, adoro exercitar o meu cérebro, adoro desenvolver projectos.

 

Mesmo trabalhando de forma independente, nem sempre é fácil conciliar a vida pessoal e profissional e se por um lado passo muito mais tempo com a minha filha (o que é maravilhoso), por outro, a disciplina e a gestão do tempo têm de estar sempre em alerta na minha cabeça.

 

Agora não distingo tão bem os dias da semana dos fins-de-semana, não há horário das 09 às 18h (quando acontecia), não há trabalho de 2f à 6f, não há horas no trânsito, não há reuniões chatas, não há mau ambiente. Mas há uma luta constante. Luta para construirmos algo, luta para isto dar certo, luta para ter clientes, luta para inovar e luta para entregar o que prometo diariamente e inspirar os que me rodeiam.

 

Se não existisse a questão do dinheiro, muitas coisas seriam mais fáceis. Mas existe. E precisamos dele. E não tem problema nenhum admitirmos que fazemos algo também em troca de um pagamento. Também dou (dar mesmo) algo de mim como apoio, conselhos, materiais, conteúdos. Mas também defendo que o trabalho das pessoas tem um valor. Seria um pouco inconsciente eu não me lembrar das condições que tinha no passado. Agora não as tenho. Tenho outras.

 

Na realidade só estou a trabalhar com foco no Personal Branding há 8 meses e isto faz-me pensar muito. Pensar que nestes 8 meses aconteceram tantas coisas. Tantas coisas e ainda nem 1 ano passou. Não será motivo para celebrar? Eu acho que sim.

 

Partilho as minhas lições ao longo desta jornada (ordenadas de forma aleatória).

 

1. Celebrar as conquistas

Das mais pequenas às maiores. Isto ajuda a reforçar que o caminho é continuar. Por mais que tentemos não colocar obstáculos, nem sempre isso é possível. Mas então porque não focar nas coisas boas? Eu celebro os feedbacks todos que tenho recebido de pessoas que me conhecem e outras que não me conhecem. Celebro todos os meus clientes que já tive. Celebro todos os workshops que realizei. Celebro todos os artigos que já escrevi. Celebro ter sido oradora num grande evento em Portugal. Celebro o meu e-book. Celebro as parcerias que estabeleci. Celebro as pessoas e profissionais bons que tenho conhecido. Celebro tudo o que tenho aprendido. Celebro o reconhecimento que tenho hoje. Celebro as coisas novas que tenho feito. Celebro o meu tempo.

 

2. Mercados novos por vezes podem ser coisas estranhas

Passei pelo inesperado, desconhecia totalmente onde me ia “meter”. Foi surpreendente a descoberta da quantidade de empreendedores que existe e de pessoas que estão em busca do seu propósito (palavra que nunca tinha parado muito para pensar). Como em tudo, o meu mercado parece-me ter coisas boas e coisas más. Apesar de ser muito pequeno (acredito que vá crescer), identifiquei alguns players que já estavam presentes há um tempo considerável. Confesso que não os sigo com regularidade mas vou tentando actualizar-me de vez em quando (afinal isto também faz parte da Gestão da Marca). Acho que há lugar para todos. Até vou partilhar uma situação interessante que vivi e que comprova isso mesmo. Uma pessoa contactou-me e disse que gostava de trabalhar comigo para desenvolver a sua Marca Pessoal e que gostava de trabalhar com uma “concorrente” minha para uma outra situação específica. Mas também já confessei noutra publicação que as minhas inspirações não são portuguesas. E é um facto. Nada contra mas também nada que me deslumbre…

 

3. Temos de ser o exemplo

Como é possível eu ajudar outras pessoas se não me ajudar a mim primeiro? Como é possível apresentar-lhes um plano de acções se depois não sei na realidade o que é aquilo? Como é possível alguém trabalhar Marca Pessoal se nem sabe o que é uma Marca? Como é possível promover o seu trabalho com conteúdos não originais e que se encontram no Google? Vejo e oiço tanta gente a falar do que não sabe como se soubesse. Respeito-as e elas têm o seu público. Aprendi a compreender isto, não foi imediato. Mas se há coisa que não gosto é bluff, show off e falsas promessas. Iria confiar a minha Marca a uma pessoa que não trabalha bem a sua? E atenção, trabalhar a sua Marca não é ser famoso.

 

4. Nem sempre o que parece é

Fala-se tanto de autenticidade. A verdade que tantos apregoam por aí…Ai, se eu contasse as cópias, imitações baratas e mentiras de  empreendedores que eu já descobri nestes meses…. Mas não serei eu a contar. O importante é estarmos de consciência tranquila. A verdade…às vezes aparece em pequenas coisas. Ora vejamos. “Estou com imenso trabalho, nem consigo dar resposta a todos…” E depois recebemos um e-mail com disponibilidade para serviços gratuitos para aquela altura.. Ou então: “Aquela pessoa está super bem, aparece em todo o lado, deve ter imensos clientes”. Pois.. aparecer não é difícil, ganhar dinheiro com essas presenças sim e isso materializar-se em clientes reais é apenas uma possibilidade, não uma certeza. Aparecer é diferente de ser e de fazer acontecer. Esta questão remete-me para a (des)valorização do mercado em que este não é diferente de muitos outros e há sempre alguém a fazer tudo e mais alguma de forma gratuita só para aparecer.  

 

5. Disse não e não me arrependo

Podia ter sido oradora em vários eventos/palestras/conferências. Mas não fui. Apresentei o meu projecto a diversas entidades e todas ficaram agradadas e “queriam-me”. Mas adivinhem. Não estavam habituadas a pagar por esse tipo de serviço. Eu percebo, enquanto houver alguém a fazer de graça… Eu não vou esperar que esse alguém o deixe de fazer mas vou defender a minha posição. Eu não actuo assim. Posso ter perdido visibilidade, contactos, clientes, fotos para as redes sociais... Posso. Mas o trabalho de todos os profissionais tem um valor e o meu não é excepção. Podia ter integrado mais projectos? Podia. Mas as propostas eram ridículas. Por favor, valorizem-se! Dizer não é algo muito importante, pois faz parte do processo de definição do que nós somos, do que nós queremos e de como queremos ser reconhecidos. Por vezes não é fácil, mas é muito importante.

 

6. Não me lembro da última vez em que aprendi tanto

Eu tinha formação nas empresas, eu estava sempre a ler sobre as novidades do mercado onde actuava. Mas agora é diferente. Tirei várias formações (umas valeram, outras nem por isso), leio muito, pesquiso muito, troco muitas ideias. O meu cérebro não pára. Estou constantemente a ter ideias. Nunca me faltam soluções e caminhos, para mim e para os meus clientes. Cada projecto é um novo desafio para mim. Dedico uma boa parte do meu tempo a aprender sobre aquilo que realmente me interessa. Ultimamente tenho apostado muito em livros, confesso que gosto de formações práticas, sem grandes teorias… e não há muitas dessas por aí. Tenho aprendido muito de forma autodidata. Confesso que já não ligo às certificações, acho que às vezes se gasta mais dinheiro com elas do que se retira algo de realmente útil. Há muito conhecimento acessível, é uma questão de se procurar.

 

7. Agora sou livre

Na verdade sempre fui ou mais-ou-menos. Tinha chefes, fazia parte de uma estrutura… o que por si só limita sempre alguma coisa. Agora trabalho com quem quero (sim, eu escolho os meus clientes e eles escolhem-me a mim), faço o que eu quero, quando eu quero, onde eu quero. E sou simplesmente eu. A forma como falo com os meus clientes, o que lhes apresento, o que lhes digo. Sou eu 😊 Sigo muito a minha intuição. Sigo muito os meus valores. Sigo a minha personalidade. Sigo a minha opinião. Nem dou pelo tempo a passar.

 

8. Novas pessoas, por favor

O mercado precisa de novas pessoas/profissionais. O cliente precisa ter à sua disposição várias opções e escolher consoante os seus critérios. É assim que deve funcionar. Defendo a diferença, a inovação e a disrupção. Mais do mesmo não. O mundo precisa de novas perspectivas, novas ideias, novas opiniões. Sem medo. Vai haver sempre alguém que não vai gostar. Mas esse alguém não é o nosso público. Também vai haver sempre alguém que vai gostar. E é para esse alguém que devemos falar e interagir. Se há coisa que me enche o coração é quando recebo uma mensagem de alguém (e já recebi várias😊) a dizer que se identificou muito o que eu escrevi, que gosta de tudo o que eu partilho, que a minha visão o fez pensar,…e até que eu me entrego demais…Sim, já me disseram isso! Sou muito pragmática mas também sou muito emocional. Trabalho as Marcas dos meus clientes como se trabalhasse a minha, quero o melhor para eles! É neles que penso, não em mim. Esta sou eu, a nova pessoa neste mercado.

 

9. Não consigo e não quero apagar o passado

Já li várias que não somos o passado, podemos definir a partir de agora o nosso futuro. Concordo com a última parte mas acho que o nosso passado influencia muito a forma como actuamos, pensamos e somos. E é com base em muita coisa que me aconteceu que hoje defendo o que defendo e sei o que gosto e o que não gosto e sei em que sou boa e não sou. Cada um tem o passado e deve utilizá-lo da melhor forma, sem o esconder. Não acho que o passado deva limitar o futuro nem defendo linhas rectas. Acredito no poder da mudança, na evolução e na luta pelos sonhos. O passado diferencia-nos de todos os outros. “Pegue” nele, parta de onde está agora e com o que tem e defina o futuro que quer e que é possível.

 

10. É um processo

O que hoje é verdade, amanhã poderá ser um pouco diferente. O que hoje pensamos que adoramos, amanhã poderá não ser bem assim. O que hoje pensamos que dará certo, poderá não se vir a verificar. Nem todos os meus planos deram certo. Falharam alguns. Outros nem sequer arrancaram porque não se verificaram as condições certas. Às vezes temos de esperar. Nada é definitivo. Comecei de uma forma, com um posicionamento e depois fui percebendo de facto a minha missão e o que eu queria para o meu dia-a-dia. A mudança é sempre possível e eu tenho vivido em constante experimentação e aprendizagem. É importante não esquecer que devemos comunicar com o nosso público de forma clara e sermos honestos. Também é importante não fechar portas, nunca se sabe o dia de amanhã e este mundo é mesmo muito pequeno, acabamos por “esbarrar” com o nosso passado.

 

11. Ter ou não ter Plano A1 e A2…?

Para mim, SIM! Tem sido um percurso de descoberta. Do que quero e do que preciso. Comecei apenas com Marketing e Branding e acrescentei o Personal Branding. Neste momento não consigo viver (financeiramente) única e exclusivamente de Personal Branding. Acredito que um dia possa viver. E de uma forma natural tenho vindo a descobrir uma outra área na qual já trabalhei um pouco e que me desperta cada vez mais interesse: o Employer Branding. Na realidade a minha vida profissional foi passada em empresas e gostei (da maior parte delas). É um mundo que conheço bem e é um mundo para o qual quero contribuir da melhor forma. Então, porque não juntar o útil ao agradável? Portanto…sempre a evoluir, sempre a descobrir, sempre a avançar! Mesmo que por vezes sejamos confrontados com aquelas pessoas que duvidam do nosso projecto ou nos tentam mandar abaixo só porque sim. Porque não o conseguiram até agora e não irá conseguir? Porque a minha força é superior 😊

 

Na verdade acho que ainda aprendi mais lições mas por hoje é isto. O meu conselho hoje: fazer acontecer!